O etarismo no universo gay: sua história importa
- Redação Uomini

- 31 de ago.
- 4 min de leitura
No vibrante e complexo universo gay, existe um paradoxo silencioso e, muitas vezes, doloroso: a exaltação incessante da juventude e a consequente invisibilidade do envelhecer.

O que deveria ser um espaço de liberdade e aceitação, onde as diversas formas de amor e desejo florescem, frequentemente se transforma em um palco onde o tempo é visto como inimigo e o afeto, infelizmente, ganha data de validade.
O etarismo no universo gay
Etarismo, no contexto geral, é o preconceito ou discriminação contra pessoas por causa da idade. No universo gay, esse termo ganha uma camada ainda mais específica e dolorosa.
No mundo gay, o etarismo se manifesta como uma fixação quase obsessiva pela juventude, onde ser jovem se torna a principal moeda de valor e visibilidade. Isso cria um ciclo de preconceito com impactos em todas as idades:
Como o etarismo afeta a comunidade gay
Para homens mais velhos: Eles se tornam invisíveis ou são ignorados em aplicativos e espaços sociais. O desejo e a atração por corpos maduros são frequentemente fetichizados ou, na maioria das vezes, simplesmente desconsiderados. O envelhecer é visto como uma ameaça à relevância social e ao desejo.
Para homens mais jovens: A pressão estética se torna imensa desde cedo. Há um medo constante de envelhecer, pois a juventude é tratada como um bem com prazo de validade, e perder essa "qualidade" significa perder o valor no mercado de relacionamentos e afeto.
Muitas vezes, esse preconceito é disfarçado de "preferência pessoal" ("Eu só me interesso por caras mais novos"), mas, na verdade, contribui para uma cultura de exclusão que desvaloriza a beleza, a experiência e a capacidade de amar em todas as idades.
É um ciclo de preconceito reproduzido por e contra a própria comunidade, onde a maturidade é vista não como um ganho, mas como uma perda.
A juventude virou exigência, o tempo ameaça
"Tenho 30 e já estou velho para esse meio". Essa frase, mais comum do que se imagina, ecoa uma realidade preocupante. No mundo gay, a juventude se tornou uma moeda de troca, um pré-requisito não oficial para a visibilidade e o desejo.
Aos 18, jovens já sentem a pressão estética esmagadora, internalizando a ideia de que a beleza e o valor têm prazo de validade.
Aos 30, o sentimento de invisibilidade começa a assombrar. Homens acima dos 40, então, enfrentam um cenário ainda mais cruel: são ignorados, fetichizados em nichos específicos, ou simplesmente excluídos dos espaços de desejo e conexão.
Onde está a beleza da maturidade, a riqueza das experiências e a profundidade de um afeto construído ao longo dos anos?
Etarismo: preconceito disfarçado de preferência
Essa dinâmica tem um nome: etarismo. É um preconceito disfarçado de "preferência pessoal", sutil em suas manifestações, mas quase sempre cruel em seus efeitos.
O pior? É um preconceito frequentemente reproduzido dentro da própria comunidade, por nós mesmos. É fácil camuflar o etarismo sob o véu da atração individual.
"Não me atrai pessoas mais velhas" é uma frase que, por si só, não seria um problema. O perigo reside na generalização, na exclusão sistemática, na crença de que corpos maduros não carregam desejo, paixão ou a capacidade de amar profundamente.
Beleza, memória, potência: o que o tempo nos traz
Mas todo corpo que vive carrega beleza, memória, potência. Cada ruga, cada fio de cabelo prateado, cada cicatriz conta uma história. É um mapa de vivências, de superações, de alegrias e dores que moldaram quem somos. Negar essa beleza é negar uma parte essencial da experiência humana.
Envelhecer no mundo gay ainda é visto como um erro, ou um silêncio. Um silêncio sobre as histórias que não são contadas, os amores que não são vividos, os desejos que são reprimidos. Mas é justamente nesse silêncio que precisamos encontrar a voz para iniciar uma conversa que não pode mais ser adiada.
Amor não tem prazo de validade, afeto não tem idade limite
Talvez a maturidade que nos ensinaram a temer seja, na verdade, o berço do amor mais livre. Um amor desprendido das amarras estéticas impostas, focado na conexão genuína, na troca de experiências, na cumplicidade que só o tempo pode construir.
A afetividade e o desejo não são privilégios da juventude. Corpos maduros amam, sentem desejo e anseiam por conexão. Romper com o etarismo significa desconstruir a ideia de que o amor e o afeto têm uma data de validade predefinida. Significa reconhecer que a beleza é diversa e que a capacidade de amar transcende a idade.
Sua história importa
E você? Já sentiu na pele os efeitos do etarismo? Seja a pressão de se encaixar em um padrão irreal, a invisibilidade em aplicativos de relacionamento, ou a exclusão de espaços sociais. Sua história pode ecoar em alguém que precisa se sentir visto, que precisa de um lembrete de que não está sozinho nessa jornada.
Compartilhe nos comentários. É hora de abrir essa conversa, de desafiar os preconceitos internalizados e de construir um universo gay onde todas as idades, todos os corpos e todas as formas de amor são celebrados.




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