Quando entrei na faculdade, sabia que muitas coisas na minha vida mudariam. Novo ambiente, novas amizades, e talvez até novas descobertas sobre mim mesmo.
O que eu não esperava era que uma dessas descobertas viria de forma tão íntima e transformadora, e que envolveria o meu melhor amigo, Gabriel.
Nos conhecemos logo no primeiro semestre, durante uma aula de Introdução à Filosofia. Ele era extrovertido, engraçado e tinha uma facilidade em fazer amizades.
Rapidamente nos tornamos próximos, passando horas no campus, estudando e conversando sobre a vida. Não demorou para que eu me sentisse atraído por ele.
No entanto, nunca tive coragem de admitir isso, nem para mim mesmo. Gabriel era hétero – ou pelo menos eu achava que era – e eu não queria arriscar a amizade que construímos.
O tempo passou, e nossa amizade só se fortaleceu. Saíamos juntos praticamente todo fim de semana, e até dormíamos um na casa do outro depois das festas da faculdade. Foi em uma dessas noites que tudo mudou.
Era uma sexta-feira e havíamos ido a uma festa organizada pelo centro acadêmico. Bebemos, dançamos e rimos a noite toda. Quando a festa terminou, decidimos voltar para o meu apartamento, que ficava perto do campus.
Gabriel estava mais animado que o normal, falando sobre tudo e nada ao mesmo tempo, rindo alto. Eu sabia que ele tinha bebido um pouco demais, mas não ao ponto de perder o controle.
Chegamos ao meu apartamento e jogamos as mochilas no chão. Gabriel se jogou no sofá, enquanto eu fui até a cozinha pegar um pouco de água. Quando voltei, ele estava deitado, os olhos meio fechados, mas com um sorriso preguiçoso nos lábios.
— Cara, você já se apaixonou por alguém que não podia? — ele perguntou de repente, quebrando o silêncio.
Aquilo me pegou de surpresa. Sentei ao lado dele, tentando entender o que ele queria dizer.
— Como assim? — perguntei, tentando soar casual.
— Tipo... alguém que você gosta, mas sabe que não pode rolar. Já aconteceu com você?
Eu poderia ter fingido que não sabia do que ele estava falando. Poderia ter mudado de assunto ou desconversado. Mas naquele momento, talvez pela bebida ou pela intimidade que tínhamos, resolvi ser sincero.
— Acho que sim — respondi. — Mas e você? Está apaixonado por alguém?
Gabriel ficou em silêncio por alguns segundos, olhando para o teto. Depois, sem me olhar diretamente, ele disse:
— Talvez. Não sei se é paixão, mas... tem alguém com quem eu tenho pensado bastante.
Meu coração disparou. Aquela era a última coisa que eu esperava ouvir dele, ainda mais naquela situação.
Antes que eu pudesse perguntar quem era essa pessoa, ele se sentou no sofá e olhou diretamente nos meus olhos. Havia algo diferente em seu olhar, algo que eu nunca tinha visto antes.
— Eu tenho pensado muito em você.
Aquelas palavras ficaram no ar, pesadas e carregadas de significado. Por um momento, não soube o que dizer ou como reagir. Será que ele estava falando sério? Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo.
— O quê? — consegui balbuciar, tentando processar o que ele acabara de dizer.
Gabriel sorriu, mas dessa vez não era o sorriso brincalhão de sempre. Era um sorriso tímido, nervoso.
— É isso. Eu não sei o que isso significa, mas... eu gosto de você, e faz um tempo que tenho sentido isso.
Meu coração acelerou. Tudo o que eu tinha reprimido durante meses veio à tona em questão de segundos. Sem pensar, me aproximei e coloquei a mão no rosto dele, acariciando sua pele quente. Ele não recuou, apenas fechou os olhos, como se estivesse esperando por aquele toque.
— Se você não quiser, tudo bem — ele murmurou, sua voz um pouco trêmula. — Mas eu queria saber como seria.
Antes que ele pudesse terminar a frase, eu o beijei. Foi um beijo tímido no início, cheio de incerteza e nervosismo.
Mas logo, aquela timidez deu lugar a algo mais intenso, mais urgente. Todos os sentimentos que eu havia escondido finalmente se libertaram naquele momento, e ele respondeu com o mesmo desejo.
Nosso beijo ficou mais intenso, e logo nos encontramos tirando as roupas, sem falar nada, apenas nos deixando levar pelo calor do momento. O corpo dele contra o meu, a sensação do toque de sua pele, tudo parecia surreal.
Estávamos no meu quarto, onde tantas vezes tínhamos ficado só como amigos, mas agora, a dinâmica era completamente diferente.
Aquela foi a minha primeira vez, e tudo parecia um misto de nervosismo e excitação. Eu estava com alguém que conhecia bem, mas, ao mesmo tempo, era uma descoberta nova para nós dois.
Gabriel foi gentil, atento, e cada movimento parecia sincronizado. Eu não sabia como seria, mas a maneira como ele me tocava e me olhava me fazia sentir seguro, mesmo diante de algo tão novo.
Depois que tudo acabou, ficamos deitados lado a lado, nossas respirações ainda ofegantes. O silêncio entre nós não era constrangedor, mas cheio de entendimento.
Gabriel virou-se para mim e sorriu, aquele sorriso que eu conhecia tão bem, mas que agora carregava um novo significado.
— Eu acho que isso responde a minha pergunta — ele disse, e ambos rimos.
Naquela noite, algo mudou entre nós. A amizade permaneceu, mas agora havia uma nova camada de intimidade, algo que nenhum de nós esperava, mas que acolhemos com naturalidade.
Eu perdi minha virgindade com meu melhor amigo da faculdade, e essa experiência não só me fez entender mais sobre mim mesmo, como também fortaleceu o vínculo que tínhamos.
E, naquele momento, soube que estava exatamente onde deveria estar.
Texto: Redação revista Uomini.
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